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18/03/2010

Modo de usar-se

Coitada, foi usada por aquele cafajeste". Ouvi essa frase na beira da praia, num papo que rolava no guarda-sol ao lado. Pelo visto a coitada em questão financiou algum malandro, ou serviu de degrau para um alpinista social, sei lá, só sei que ela havia sido usada no pior sentido, deu pra perceber pelo tom do comentário. Mas não fiquei com pena da coitada, seja ela quem for. Não costumo ir atrás desta história de "foi usada". No que se refere a adultos, todo mundo sabe mais ou menos onde está se metendo, ninguém é totalmente inocente. Se nos usam, algum consentimento a gente deu, mesmo sem ter assinado procuração. E se estamos assim tão desfrutáveis para o uso alheio, seguramente é porque estamos nos usando pouco. Se for este o caso, seguem sugestões para usar a si mesmo: comer, beber, dormir e transar, nossas quatro necessidades básicas, sempre com segurança, mas também sem esquecer que estamos aqui para nos divertir. Usar-se nada mais é do que reconhecer a si próprio como uma fonte de prazer. Dançar sem medo de pagar mico, dizer o que pensa mesmo que isso contrarie as verdades estabelecidas, rir sem inibição – dane-se se aparecer a gengiva. Mas cuide da sua gengiva, cuide dos dentes, não se negligencie. Use seu médico, seu dentista, sua saúde. Use-se para progredir na vida. Alguma coisa você já deve ter aprendido até aqui. Encoste-se na sua própria experiência e intuição, honre sua história de vida, seu currículo, e se ele não for tão atraente, incremente-o. Use sua voz: marque entrevistas. Use sua simpatia: convença os outros. Use seus neurônios: pra todo o resto. E este coração acomodado aí no peito? Use-o, ora bolas. Não fique protegendo-se de frustrações só porque seu grande amor da adolescência não deu certo. Ou porque seu casamento até-que-a-morte-os-separe durou "apenas" 13 anos. Não enviuve de si mesmo, ninguém morreu. Use-se para conseguir uma passagem para a Patagônia, use-se para fazer amigos, use-se para evoluir. Use seus olhos para ler, chorar, reter cenas vistas e vividas – a memória e a emoção vêm muito do olho. Use os ouvidos para escutar boa música, estímulos e o silêncio mais completo. Use as pernas para pedalar, escalar, levantar da cama, ir aonde quiser. Seus dedos para pedir carona, escrever poemas, apontar distâncias. Sua boca pra sorrir, sua barriga para gerar filhos, seus seios para amamentar, seus braços para trabalhar, sua alma para preencher-se, seu cérebro para não morrer em vida. Use-se. Se você não fizer, algum engraçadinho o fará. E você virará assunto de beira de praia.
Martha Medeiros

16/03/2010

Viu? Não tem que ser assim!

Segundo a Teoria da Psicanálise, aquilo que criticamos, negamos ou até mesmo repugnamos é exatamente o contrário. Entende-se então, que tudo aquilo que tento afastar ou com demasiadas palavras tento criticar, é analisado de forma contrária. Quero um amor para vida toda, quero filhos, quero ser uma dona de casa exemplar, quero submissões nos relacionamentos. Mas que porra é essa? Qual a parte de que acho tudo isso uma simples regra para ser aceito na sociedade você não entendeu ainda? Por um acaso não tenho a capacidade para ser feliz ou ter uma vida plena da maneira que idealizo? Acho sim necessário ter alguém ao me lado, mas precisa ser morando de baixo do meu teto? Preciso vê-lo todos os dias? Ninguém tenta entender o meu lado ou algum outro lado feminino que pensa semelhante. As minhas crises de TPM, os meus momentos de isolação e o meu mau humor não são levados em conta nunca, ? Pois é, é sempre assim mesmo. Tenho que seguir as regras e impedir meus hormônios de funcionarem durante meu período pré menstrual. Tenho que sempre ser receptiva e dormir pelo menos umas doze horas para o meu humor está sempre ótimo. Sinto informá-los, mas isso é impossível. Portanto, penso que ninguém deve ou é obrigada a passar isso comigo. Alias, eu nem quero isso. Desculpa, mas realizações, futuro, planos e felicidade não se resumem a pessoas, relacionamentos, dependências, procriações ou em um papel assinado por um casal para o governo poder te controlar. Agora você entendeu ou ainda acha que quero tudo aquilo para minha vida? Quero poder acordar e brigar comigo mesma na frente do espelho. Quero ir para o quarto com um bom livro e não ter que dizer uma palavra sequer. Quero ter crises de TPM e me empanturrar de chocolate, assistindo um bom drama e me acabar de chorar sem ninguém me perguntar se tem algo de errado comigo. Quero usar os nomes escolhidos de uma lista gigantesca em meus gatos, cachorros e iguanas. É pedir muito que entenda que é assim que idealizo minha felicidade? Quero sim, pessoas em minha volta, mas tem que ser desse seu jeito trivial? Não, não tem! Quero liberdade. Quero independência. Não quero viver por alguém. Quero viver pelo mundo. Quero mais. Quero aquilo que ainda não foi definido ou classificado. Mas eu só sei que quero!

Sempre.

-Sempre! É uma palavra terrível. Estremeço sempre que ouço. As mulheres gostam muito de usá-la. Estragaram todo o idílio, querendo fazê-lo eterno. É uma palavra sem signifiado algum. A única diferença que há entre um capricho e uma paixão eterna é que o capricho dura um pouco mais.



O Retrato de Dorian Gray.
-Ah! Meu caro Basílio, justamente por isso posso sentir. Os que são fiéis conhecem unicamente o lado trivial do amor. O infiél é que conhece as tragédias do amor.



( O Retrato de Dorian Gray )




( e não e que é bem assim mesmo? )
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